O Grande Desperdício

Artigo da Revista de Automóveis, set'57

Colaboração: Jorge Califrer e Luiz Tinoco

Provavelmente esta foto vai fazer com que vocês se sintam um pouco mal. Para cada Chevy magnificamente restaurado, vários foram para o Paraíso dos Chevys. A imagem mostrada aqui é bem triste. É uma velha foto do porto do Rio de Janeiro, tirada no fim da década de 50. Os carros foram importados novos e a Alfândega cobrou taxas tão altas que os donos decidiram abandonar os carros. Essa é uma vista parcial, existiam muito mais carros. Lembro, quando era garoto em 1963, que os carros estavam tão enferrujados que as portas caíram e ficaram apoiadas na carroceria. Os carros nunca andaram numa estrada ou rua brasileira. Ficaram parados no local até se acabarem.

 

Motores, transmissões e suspensões perfeitas foram para os ferro-velhos. Entre a grande maioria de 55, 56 e 57s (dá para localizar o 56 conversível?), existiam alguns Cadillacs. Alguns outros carros mais antigos, e até um Renault Dauphine francês. Há alguns anos um colecionador comprou um 57 conversível que teve a sorte de ser guardado dentro de um dos armazéns do cais, longe da maresia, do sol e da chuva. A ferrugem era mínima, mas o estofamento e a capota estavam acabados. Se você encostasse o dedo no vinil da capota, furava como se fosse de papel. Esse carro já está restaurado. A mecânica era virgem e a carroceria completamente lisa. Agora ele está pintado de preto (cor original) com o interior vermelho e prateado.

O que mais me deprime nessa foto é saber que esses carros tão desejados foram feitos cuidadosamente em suas fábricas espalhadas pelos E.U.A (os da foto provavelmente foram montados em Tarrytown, estado de New York. A grande maioria dos 55-57 que vieram para o Brasil eram de lá) apenas para apodrecer em um porto distante. Ninguém sentiu o prazer de dirigi-los, o maravilhoso cheiro dos interiores com o vinil e o tapete novinhos. Eles não tiveram a chance, depois de anos de bons serviços, de serem restaurados por colecionadores ou hot rodders. O lugar era seguro contra vândalos mas não era contra chuva, sol e maresia. Os amantes dos Tri-Chevys pensam que os carros que não sobreviveram se acabaram em acidentes ou foram usados até o último suspiro. Eles nem imaginam uma coisa assim. Mesmo com a Alfândega cobrando taxas tão altas, uma grande quantidade de 55-57s conseguiu entrar no país. Alguns legalmente e outros não. O meu 57 coupê sobreviveu . Ainda bem que, durante os três anos, foram fabricados mais de três milhões de unidades.

 

Isto é Brasil

Retornar